Para cumprir com a primeira proposta de trabalho apresentada pela professora de Design e Comunicação Visual, eu e a minha colega, Beatriz Dias, percorremos alguns caminhos que agora exponho.
A primeira decisão prendeu-se com a escolha da própria música que estaria na base de todo este projeto. A seleção de músicas foi feita por ambas (cada uma escolheu duas) e consistiu nas seguintes opções: Rihanna- Dimonds, London Grammar- Stay Awake, Beyoncé- Pretty Hurts e Predo Abrunhosa- Quero voltar para os braços da minha mãe. Após analisarmos, durante a primeira aula prática, as letras de cada uma destas canções, acabamos por optar pela música Pretty Hurts, do mais recente albúm da cantora Beyoncé. A letra desta era a mais visual de todas e o próprio video clip era uma ótima fonte de inspiração. Sublinhamos de seguida algumas das palavras mais importantes da letra: pretty, hurts, disease, plastic, worse, mirror, thinner, bigger, entre outras, que trazem só por si uma outra dimensão ao trabalho - são representantes de uma sociedade cada vez mais preocupada com a aparência. Foi precisamente nesta noção que nos inspiramos e foi assim que iniciamos o nosso projeto.
Antes de darmos início à própria elaboração da composição visual, optamos por estudar os vários elementos básicos da composição visual aprendidos nessa aula, de forma a ver aqueles com os quais preferíamos trabalhar e que melhor se adequariam ao nosso tema. Aqueles que primeiro nos inspiraram foram a escala, a linha e a textura; eventualmente, foram precisamente estes elementos que dominaram a nossa composição final.
Expor o sentimento por trás desta música e tornar físicas e observáveis todas as ideias que ela nos despertou, conciliando a opinião e visão de ambas, foi bem mais complicado do que inicialmente pensava. Havia no entanto uma ideia que ambas preferimos logo no início: a de representar um vulto, sem cara/rosto, magro (de acordo com os ideias de beleza atuais ao quais no encontramos mais expostos), deformando a sua sombra, tornando-a maior, obesa. Essa sobra representaria então a forma como esse vulto, anorético, se via. Foram colocadas várias hipóteses neste primeiro rascunho: a sombra composta de palavras presentes na música (ideia imediatamente descartada, uma vez que envolve tipografia), criação de volume nessa sombra através do uso do ponto, colocação de uma fita métrica em torno do vulto magro, quase como se esta se tratasse de uma faxa de um concurso de beleza, etc.
Pesquisamos seguidamente algumas silhuetas online ("fashion sketch" no google imagens) e chegamos mesmo a tentar imprimir uma imagem que se parecia adequar às nossas ideias - queríamos fazer um rascunho em papel para ver como ficaria o trabalho, antes de o desenvolver em photoshop. No entanto, por falta de meios de impressão, tal não foi possível.
Apresentadas com este obstáculo, decidimos então reorganizar as nossas ideias e tentar uma aproximação um pouco mais simples, objetiva e exequível, que tornasse possível a incorporação de uma fotografia tirada por nós, que seria adaptada e transformada no cenário base, o campo, da composição. Após uma curta pesquisa na internet e mais alguns rascunhos no meu caderno, chegamos a uma ideia final inspirada na anterior: a de representar um vulto, magro, anoréctico, que, ao ver-se num espelho, estivesse distorcido, obeso. Inicialmente a nossa ideia prendia-se então só com os problemas alimentares; no entanto, à medida que o projeto foi avançando, esta distorção alargou-se, passando a incluir todos aqueles que têm uma imagem errada de si mesmos e que têm falta de auto-confiança, quer esta seja causada pelos standards de beleza atuais, quer por qualquer outra pressão psicológica, familiar, de saúde, etc. Queríamos fazer uma composição que se relacionasse com um público maior e que fosse facilmente compreendida e interpretada.
Rapidamente encontramos um desenho de um vulto que se afigurou adequado e realizamos as primeiras experiências fotográficas (para achar o cenário acima referido). O meu telemóvel foi o instrumento utilizado para tal recolha. Optamos pela esquina perpendicular à sala 21, uma vez que as janelas poderiam ser editadas, de forma a parecerem um espelho. A fotografia final foi tirada com uma câmara de uma colega no dia 20/02/2014 e imediatamente editada, de forma a podermos logo começar a composição visual na aula prática seguinte.
O cenário foi então editado em photoshop e o vulto magro rapidamente adaptado ao nosso gosto (pintado de preto e aperfeiçoado). A maior dificuldade encontrada prendeu-se com a edição/ distorção do vulto refletido no espelho.
Simplesmente aumentar a escala do mesmo não trazia impacto suficiente à composição. Procuramos algumas texturas, baseadas no triângulo, de forma a incorporar um contorno básico, mas nenhuma se adequou. Inspiradas pela obra de Picasso que a professora nos recomendou, Mulher ao espelho, chegamos mesmo a pensar transformar o corpo num simples círculo gigante e a cabeça num triângulo, adicionando algumas texturas, para tornar a diferença entre vultos mais chocante. Mas nenhuma destas ideias se afigurava suficientemente satisfatória para ambas e o espaço no espelho era demasiado limitado. No fim da parte prática da aula, o vulto no espelho encontrava-se editado da seguinte forma: uma textura espiral no rosto, para transmitir a ideia de confusão, e no corpo umas grades , que davam a noção de corpo enquanto prisão física da alma. Esse vulto tinha ainda atrás de si uma cópia, uma espécie de segunda projecção, menos opaca e semi-apagada (usamos uma borracha que criava linhas, quase que como de aranhões se tratassem). Esta projecção tornava o vulto no espelho ainda maior e mais "assustador".
No entanto, enquanto suavizava os contornos do vulto real como nos havia sido recomendado pela docente, acabei a fazer algumas experiências no photoshop, numa tentativa (que na altura parecia infrutífera) de encontrar uma técnica ou ferramenta que tornasse o vulto no espelho tão irreconhecível e desfigurado como pretendíamos. Foi isso mesmo que se sucedeu, e foi assim que conseguimos o efeito final: um vulto decomposto em pequenos contornos, fragmentados mas relacionados entre si, quase que inspirados no cubismo.
A única imagem que utilizamos que não é da nossa autoria é precisamente a do vulto: foi encontrada no google e ainda assim bastante editada para se ajustar à nossa composição. O resto preferimos literalmente construir de raiz.
Em relação aos elementos básicos da comunicação visual que
neste projeto foram utilizados, sublinho o contorno, a linha, a escala, a
direção, a dimensão e a textura, criada a partir do ponto, no chão. O contorno
é visível no espelho e paredes (quadrado, contorno básico) e ainda no vulto; a linha foi copiada
múltiplas vezes ao longo da parte superior da parede; a escala, base desta
composição visual, está patente na diferença entre os dois vultos; a dimensão é
visível graças à perspectiva a partir da qual a fotografia foi tirada e à
diferente intensidade do ponto no chão: mais intenso junto à esquina,
esbatendo-se progressivamente. A direção vertical é a preponderante, apesar da
linha ser horizontal. É essa direção vertical que dá à nossa composição a
sensação do vulto real estar completamente estático, contemplando-se ao espelho.
Optamos por cores simples, neutrais e quase monocromáticas, para não desviar a
atenção do observador do que realmente interessa: o contraste entre os vultos.
No que toca às técnicas de comunicação visual destaco a
fragmetação, uma vez que existe uma "decomposição dos elementos e unidades
de um design em partes separadas, que se relacionam entre si"; o contraste
entre a economia do cenário e vulto real e a profusão e exagero no vulto
refletido; a previsibilidade, pois existe efetivamente uma lógica indispensável
na organização dos elementos no plano; a passividade (é uma representação
estática). São visíveis ainda a opacidade, pois há um
"bloqueio total, o ocultamento, dos elementos que são visualmente
substituídos"; a distorção, presente no reflexo no espelho e a
profundidade. (x)
Conclusão:
Esta proposta de trabalho ajudou-me então a conseguir um melhor
entendimento e aplicação dos elementos básicos e técnicas da comunicação visual
aprendidos, assim como a realizar o potencial expressivo dos mesmos. Foi totalmente
desenvolvido em Adobe Photoshop CS5, com excepção do plano/cenário, resultante de uma
fotografia que capturei.
Estes elementos básicos da comunicação visual, do mais básico - o ponto - aos mais complexos, em combinação com as várias técnicas visuais, oferecem ao designer uma grande variedade expressiva e uma oportunidade de cada observador se debruçar sobre estas e assim as interpretar. Quer ligada a uma abordagem mais formal, quer a uma mais intelectual, estas técnicas de comunicação visual enriquecem as diversas composições e os diversos elementos básicos de que são compostas. Elas transmitem uma mensagem, informam e inspiram o recetor.
O nosso trabalho tinha uma função prática (a de realizar a composição visual que nos foi requerida para a cadeira), uma função estética, uma vez que é uma projeção do nosso gosto estético - minimalista - e uma função simbólica, uma vez que queríamos retratar um dos problemas mais presentes na nossa sociedade.
Para concluir, cito uma frase ouvida durante a aula que me inspirou durante toda a realização desta primeira proposta de trabalho: "Em design, para quem projecta, o gosto pessoal não é um critério".
Bibliografia consultada:
Estes elementos básicos da comunicação visual, do mais básico - o ponto - aos mais complexos, em combinação com as várias técnicas visuais, oferecem ao designer uma grande variedade expressiva e uma oportunidade de cada observador se debruçar sobre estas e assim as interpretar. Quer ligada a uma abordagem mais formal, quer a uma mais intelectual, estas técnicas de comunicação visual enriquecem as diversas composições e os diversos elementos básicos de que são compostas. Elas transmitem uma mensagem, informam e inspiram o recetor.
O nosso trabalho tinha uma função prática (a de realizar a composição visual que nos foi requerida para a cadeira), uma função estética, uma vez que é uma projeção do nosso gosto estético - minimalista - e uma função simbólica, uma vez que queríamos retratar um dos problemas mais presentes na nossa sociedade.
Para concluir, cito uma frase ouvida durante a aula que me inspirou durante toda a realização desta primeira proposta de trabalho: "Em design, para quem projecta, o gosto pessoal não é um critério".
Bibliografia consultada:
- DONDIS, Donis A.; "A sintaxe da linguagem visual", São Paulo: Martins Fontes, 1991:51-8;
- Munari, Bruno; "Design e Comunicação Visual", in http://www.scribd.com/doc/46622268/MUNARI-bruno-design-e-comunicacao-visual;
Inês Teixeira, T5
No comments:
Post a Comment